Tradição e tecnologia

19/06/2011 18:19

Quem é fã de mangá sabe bem: os quadrinhos japoneses passaram por diversas transformações ao longo dos anos. Para comprovar isto, basta comparar uma revista atual com as primeiras publicações do estilo. É fácil identificar as mudanças.

 

A forma atual dos mangás surgiu no século XX, com a influência das revistas ocidentais, principalmente as americanas. Ao ver o sucesso das histórias em quadrinhos dos Estados Unidos, o Japão resolveu apostar no segmento, mas adaptando aos interesses e à cultura do país.

 

É por causa desta influência que os mangás apresentam características faciais parecidas com as expressões dos personagens da Disney: figuras com parte do corpo desenhada de forma exagerada. A finalidade deste tipo de desenho era deixá-lo mais expressivo. Nas publicações japonesas, o maior destaque é dado aos olhos dos personagens. Na cultura oriental, os olhos são considerados “janelas da alma”, por isso, eles são os responsáveis por demonstrar os sentimentos.

 

A mudança nos mangás ocorre também devido a sua familiaridade. Ao criar um desenho, por exemplo, o autor contempla o estado de seu personagem, e com o passar do tempo, suas atitudes dentro da história vão se tornar mais elaboradas e construtivas, fazendo com que os desenhos precisem de ajustes. Ao longo d uma história ou de uma revista para outra, o traço de um mesmo personagem pode sofrer alterações.

 

Por isso, o nome mangá. Criado pelo ilustrador Hokusai em 1814, o termo significa imagem involuntária, ou seja, as criações são feitas com o objetivo de transmitir ao leitor a espontaneidade dos personagens através das ações relatadas nas histórias.

 

Com o tempo, os mangás ficaram mais longos e passaram a ser divididos em capítulos, o que facilitaria a leitura. Outra mudança está relacionada ao público da revista. Tempos atrás, a maioria era composta por crianças e jovens. Este cenário só mudou na década de 1960, com o aparecimento de leitores adultos assíduos. Foi nesta época que os mangás passaram a ser aceitos culturalmente.

 

Além de conquistar faixas etárias diversas, os mangás alcançaram diferentes classes sociais. Isto aconteceu por causa do baixo preço da revista (a produção, geralmente em preto e branco, e a baixa qualidade do papel para impressão, reduziram os custos), além da diversidade de temas que ela aborda, como por exemplo, o trabalho, escola, esporte, amor, guerra e medo. As histórias ressaltam ainda os valores da cultura japonesa, com destaque especial para a honra, coragem e a amizade.

 

Outro ponto que vale ressaltar é que, durante o processo de evolução, os mangás foram classificados nos seguintes gêneros:

 

Shojo: direcionados às garotas, as histórias focam a sensibilidade, amizade e amor. As personagens são altas e emotivas, nota-se também traços frágeis e meigos.

Shonen: tem como público alvo os meninos. As histórias são geralmente compostas por lutas, ação, amizade e aventura. Os personagens são fortes e suas expressões faciais são marcadas pelas tensões e o nervosismo que enfrentam nas batalhas.

Gekigá: este gênero é dramático e voltado ao público adulto. O assunto principal é relacionado à realidade e exige maturidade para a compreensão da mensagem passada pela história. Este tipo de mangá utiliza o plano americano para capturar seus personagens, ou seja, filmam os animes da cintura para cima.

Mecha: mangás cuja história tem foco em robôs gigantes. Os personagens são fortes e poderosos, a coragem é o principal valor, resaltado pela expressão facial dos personagens em meio a batalhas.

Yuri: histórias direcionadas a um público homossexual feminino.

Yaoi: estilo direcionado ao público homossexual masculino.

Hentai: mangás pornográficos.

 

O uso das cores é também uma das principais alterações no estilo de fazer mangá. Inicialmente, todas as histórias eram publicadas em preto e branco, por causa da tinta nanquim, usada para o desenho. Com o tempo, apenas a capa e páginas “bônus” passaram a receber cores, o que é mais comum atualmente. Porém, algumas revistas usam e abusam das cores, nas capas e histórias que as compõem, para chamar a atenção dos leitores.

 

Os mangás são tão importantes para os japoneses que passaram a fazer parte da cultura pop do país. O mercado relacionado às histórias em quadrinhos torna-se cada vez mais aquecido: músicas, roupas, assessórios e maquiagens geram renda de milhares para comerciantes no Japão e no Brasil.

 

Colorido ou preto e branco, para meninos ou meninas, o mangá já conquistou espaço no mundo inteiro. Tradicional ou tecnológico, com samurais ou robôs, as histórias já têm milhares de fãs, que aceitam, criticam, influenciam e renovam as criações dos mangakas.

 

 

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