Entrevista

30/06/2011 20:14

Espadas, bibelôs, quadros, mangás, animes, artigos diversos relacionados à cultura japonesa... Não. Não estamos em uma loja de decoração ou em um estande de uma convenção de anime/mangá. Estamos no apartamento do professor de educação física Marcelo Gonçalves.

Em cada parede, em cada cômodo da casa uma referência à cultura oriental. No quarto, a coleção de animes, mangás e pôsteres dos heróis favoritos são o destaque da decoração, que conta ainda com uma parede personalizada pela criatividade de Marcelo. A sala encanta pela beleza das espadas, o kit de chá japonês e, em evidência, um quadro, desenhado pelo professor, inspirado numa figura do oriente.

Na casa de Marcelo, nem mesmo a cozinha escapa da influência nipônica. O porta-chaves e as xícaras de café revelam o gosto do morador pela cultura estrangeira. Mas o que leva um brasileiro a ter tanto interesse por tradições e costumes tão diferentes?

Marcelo conta que o fascínio pelo Japão começou com o contato com os desenhos animados, que o entusiasmou por causa da nova visão de animação oferecida pelos japoneses. Assim, esta simpatia permanece, até hoje, incorporada à vida do professor.

Mundo Animangá - O que mais te fascina na cultura japonesa?

Marcelo – Principalmente a organização dos japoneses e a forma de lidar com a outra pessoa, que parece ser séria e ríspida, mas para eles é uma forma de respeito um com o outro. E, até mesmo nos animes podemos perceber esse respeito: quando os personagens vão lutar, a decisão sobre quem é o melhor é feito por meio de uma luta justa.

M.A - Qual o seu anime favorito?

Marcelo – Os Cavaleiros do Zodíaco. Porque é um desenho que engloba várias culturas, não só a japonesa. Além disso, Cavaleiros do Zodíaco é um anime longo, em que é possível acompanhar toda a evolução dos personagens.

M.A – E qual o seu mangá preferido?

Marcelo – Gosto de Sakura Card Captors. Porque ela usa uma linguagem muito rápida e engraçada. Ela é hilária e me faz rir muito!

M.A – Já participou de convenções de anime/mangá?

Marcelo – Sim. Já foi ao Anime Festival, AniMinas, e estou louco para ir ao festival de São Paulo, o Anime Friends.

M.A – O que você mais gosta nestes festivais?

Marcelo – O contato com os novos animes e mangás, o cosplay e RPG. Lá você tem contato com tudo ao mesmo tempo, conhece as novidades e participa de várias atividades.

M.A – Você acompanha animes na TV?

Marcelo – Vários. Gosto de desenhos estilo cartoon, como Flap Jack e Space Goofs, por exemplo. E anime, assistia Os Sete Reinos, Excel Saga, entre outros. è um mais legal que o outro!

M.A – O que você achou da mudança do canal Animax para Sony Spin?

Marcelo – Detestei. O canal passou a ser totalmente diferente. A proposta deixou de ser anime, já que, antes, o Animax transmitia anime 24 horas, e de repente, começou a colocar séries na programação. Até mandei um email para o canal sugerindo que mudassem o nome para “Sériemax”. E agora, que mudou para o Spin não gostei porque o que o ele oferece, passa em qualquer outro canal, até mesmo no Sony. E Animax, nós não temos mais, não há onde procurar animes na TV e temos que recorrer à Internet.

M.A – Com a decoração da sua casa, coleções de anime e mangá, pôsteres, você se considera um fanático?

Marcelo – Não. Eu sou um acompanhante de anime, acho a decoração bonita, mas não sou fanático do tipo que faz cosplay e se desespera para tentar ganhar concursos ou briga por isso.

M.A – Em sua opinião, o que é o fanatismo?

Marcelo – O fanatismo é criar um personagem e viver através dele, como em um jogo de RPG, em que a pessoa cria uma máscara e desenvolve nova personalidade, sendo que essa pessoa pode “entrar” no personagem a qualquer momento. O fanatismo faz a pessoa viver em função disso.

M.A – O brasileiro tem muita facilidade em aceitar outras culturas. Por que você acha que isso acontece?

Marcelo – O brasileiro foi “construído” a partir de várias culturas e raças diferentes, então, eu acho que o brasileiro se interessa, especificamente pela cultura japonesa, por ela ser mais antiga e evolutiva, já que passou de uma fase totalmente rústica para outra extremamente tecnológica. Tudo isso, sem perder a identidade japonesa, o que torna interessantíssimo o que eles fazem. E isso fascina as pessoas. O brasileiro, por ser um povo criado recentemente, em relação ao oriental, tenta manter uma identidade própria, mas buscando coisas mais além. E vemos esta definição de identidade com facilidade na cultura japonesa porque eles já passaram por tudo isso.

M.A – Essa fácil aceitação dificulta o desenvolvimento de uma identidade brasileira?

Marcelo – Com certeza. Hoje, nós não vemos nada da nossa cultura em anime, o folclore só é divulgado em determinadas épocas, ao invés de ser sempre mostrado na televisão, valorizando a cultura do país. Esse interesse por tantas culturas, por ser tão desmembrado, deixa de focar em uma para ser fortalecida e mostrada no exterior.

M.A – Na sua casa, outras culturas também compõem a sua decoração. Quais são?

Marcelo – Isso acontece por causa da religião. Eu nasci na religião católica, mas gosto de focar em várias outras, para ver o que cada uma tem de melhor. Por isso tenho artigos da religião indiana, grega, africana, japonesa e chinesa.

M.A – Você tem o costume de estudar sobre as culturas que te inspiram. Qual a importância desse tipo de conhecimento para você?

Marcelo – Acho que devemos conhecer aquilo que gostamos, temos que entender sobre o que estamos falando, não é só “gostar”. Gosto de entender as referências feitas em animes, como o porquê de determinados nomes e ações de alguns personagens e ao estudar, vejo que tudo está ligado a alguma tradição antiga e à mitologia.

Entrevista e Fotos: Marina Messias

Conheça a casa de Marcelo

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